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Contemplar é para pessoas profundas

  • Juliana Sena
  • 15 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 21 de nov. de 2020


Às vezes me pego pensando quanto é triste viver em tempos em que tudo se resume ao que se vê na superfície. Ninguém está disposto a mergulhar no outro, pois chegar no fundo requer tempo e dedicação. As pessoas se contentam ao que é visível aos olhos, mas não ao coração, por isso não estão mais dispostas a cativar, e muito menos a se tornar responsáveis por isso.

Em tempos de redes sociais, acompanhar a vida de alguém parece o bastante para traçar sua personalidade, gostos e jeitos, mas não se dão conta que pouco sabem do outro. Esse ato se estende a consultórios psiquiátricos, psicológicos e médicos cheios de hipóteses diagnósticas, mas nunca de certeza. Incertezas que podem mudar a vida de uma pessoa para pior.

Sempre me questiono dessa falta de tempo que mais me parece falta de coragem de se colocar para o outro, e de receber esse outro na mesma proporção. Relações que acabam no início porque visualizar os storys é o bastante, e escutar o outro é perda de tempo. Uma geração rasa que mais se ouve do que se escuta, forma pessoas vazias a cada esquina. É... (suspiro) são tempos com falta de tempo.

Será que uma pandemia não foi o bastante para fazer as pessoas entenderem que mais importante que uma prova ou entregar um trabalho, é estar ao lado de quem ama? Acho que nada se aprendeu, pois continua do mesmo jeito.

As vezes tento me colocar no lugar de quem me assiste de fora, deve ser bizarro e com certeza devem pensar algo totalmente contrário do que sou, não porque eu finjo ser outra pessoa, mas porque o outro me ver exatamente a partir de suas experiências e vivências, mas não como sou de verdade.

Durante um encontro com uma amiga minha, nos pegamos falando sobre eu me sentir bem ao seu lado, e que me sinto normal, pois ela não me poda como outras pessoas fazem. Até porque possuo um jeito espalhafatoso, risonho e encantador que ao se distrair com pássaros pode atravessar uma rua sem prestar atenção no fluxo de carros, ato este, que pode ser confundido com lerdeza e até irritar um adulto, se é que me entende.

Pessoas como eu e ela não somos bem-vindas no mundo adulto. Mundo esse que é coberto de caras fechadas e coisas muito sérias, que acabam nos classificando como bobas ou usuárias de drogas por se encantar com o céu ou de repente se empolgar com uma rua bonita. Mas logo, sua fala me trouxe um conforto: - a gente não precisa deixar de ser a gente pra se tornar adulto.

Causamos incômodos por ainda sermos autênticas feito crianças, estas que começam a ser podadas desde cedo: ria mais baixo; deixa esse pássaro ai; isso é besteira; quieta; fecha a perna; fale menos, etc. Que quando crescem, se contentam com o raso, como todos que observo a minha volta: não posso; não tenho tempo; vamos logo com isso; que pássaro nada, tu usa droga é?!

Contemplar é para pessoas profundas.

 
 
 

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