top of page

Amizades no mundo contemporâneo e a romantização da falta.

Há um tempo tenho me deparado com algumas postagens que normalizam a falta, contendo textos como: ser amigo na fase adulta é saber que seu amigo vai sumir por meses, não vai responder suas mensagens e quando nos encontrarmos, tudo permanecerá igual.


Evidentemente já estando na fase adulta, tenho sentido isso na pele, porém, não tenho me conformado. Vi grandes amizades de infância se esvaindo como se nunca tivessem existido, me vi sozinha me deliciando pela primeira vez na vida com uma vitória e nenhuma delas ao meu lado para vivermos isso juntas. Lembro que em todas as suas realizações, vitórias eu estava lá, mesmo no fundo do poço, ou mal, eu estava lá feliz e vibrando pela vitória de cada uma. O meu momento demorou um pouco mas chegou, porém, sem poder sentir o gostinho que é ter o apoio das minhas grandes amigas.

Com isso, comecei a me questionar e parar de aceitar esses discursos que normalizam a falta através de justificativas incabíveis. Então percebi que sim, estão normalizando que um amigo pode ser seu amigo mesmo sendo ausente. Certo, mas amizade é o que se não e existência daquela pessoa na sua vida? Quando que amigo passou a ser apenas um número de telefone com conversas ausentes?

Estamos nos perdendo tanto na pressa que o mundo tem nos colocado, resumindo nossa vida a carreira e deixando o que realmente importa de lado. Como uma pessoa ansiosa que sou, sempre tive pensamentos intrusivos catastróficos que me fazem sempre pensar na morte, e por causa disso, eu sempre digo que amo a quem amo, digo que sinto saudade, largo meus afazeres para estar com as pessoas, mesmo atarefada, pois sou tomada imediatamente pelo pensamento: e se amanhã esta pessoa não estiver mais aqui? Ou se eu não estiver mais aqui? Por isso muitas vezes me vi deixando o trabalho de lado para ficar assistindo filme com a minha mãe e comendo pipoca, ou a ouvindo mais um pouco após o almoço. Porque sempre estou pensando no quando a vida pode ser um sopro e nunca saberemos o momento que iremos partir. A vida é frágil demais para perdemos tempo ao invés de estarmos com as pessoas que amamos. Confesso que sou muito atarefada, trabalho de carteira assinada, tenho trabalhos extras, projetos e estudos, mas depois de ter sido essa amiga distante por alguns meses eu percebi que eu deveria voltar a cativar minhas amigas, desde então, sempre envio mensagem a elas, quero estar presente em suas vidas mesmo que por ligação de vídeo, mas percebi que delas eu só escuto desculpas que as aprisionam no umbigo de suas próprias bolhas. E como uma amiga ioiô que já fui, as deixando partir quando achavam necessário e as recebendo de braços abertos quando queriam voltar, tenho refletido cada vez mais sobre o valor que a minha amizade tem e sobre a falta que uma amizade presente faz, até porque ausência e amizade são palavras que não se conectam.


Sei que crescemos e que a vida adulta nos cobra muitas coisas, mas convido você a refletir sobre a amizade não ser um peso e sim um escape das dificuldades da vida. Meu conselho é não deixarmos as amizades escaparem porque só estamos tendo a capacidade de nos concentrar no nosso umbigo, um dia esse umbigo que tanto nos agarramos pode se acabar e nada sobrará. Porque é difícil ter amigos verdadeiros. Você pode ter se divorciado, ter sido demitida, mas seus amigos sempre estarão lá, então não desperdice o privilégio de ter encontrado um amigo de verdade. Apenas o valorize, envie mensagem, diga que lembrou dele, que sente falta, mostra interesse na vida dele, sai um pouco do seu mundinho e enxergue seu amigo, porque tenho certeza que todas as pessoas que hoje estão negligenciando suas amizades um dia irão se arrepender. Lembre-se a vida é passageira e relações concretas são raras, valorize o que vale a pena antes que seja tarde demais.



bottom of page