top of page

Cansei de psicólogos que acham que sabem demais e ajudam de menos

Confesso que nenhuma experiência com psicólogos surtiu efeito em mim. A minha primeira experiência com uma psicóloga foi no auge da depressão grave. Lembro que eu detestava o caminho que tinha que percorrer para chegar até ela, era um bairro que me dava ânsia de vomito, por já possuir uma lembrança nada afetiva. Depois de 5 anos descobri o porque criava essa ânsia de todo lugar, cheiro, pessoa, ou coisa que me lembrava inconscientemente ou conscientemente de algo que me faz mal. Então, fui até ela por ter ótimas indicações, sedenta por parar de sentir tanta dor, sua abordagem ou forma de levar aquela conversa não surtiu nenhum efeito, não serei rude, ela era fofa, só não conseguiu me tirar do fundo do poço. No entanto, terei que dizer que ela tentou me converter a religião evangélica, me indicando um grupo de jovens, além de entupir meu WhatsApp de pregações, que para mim, naquele momento não fazia nenhum sentido. E até hoje não faz.


Eu sempre tive uma imaginação muito boa para criar uma vida bem melhor do que a realidade na minha cabeça, e confesso que me fez muito feliz viver com base na imaginação, sem me desvincular da realidade, claro. Pois era só fechar os olhos e colocar o fone tocando Yann Tiersen, que ao invés de um ônibus, eu passava a frequentar um trem, e o caminho da minha casa se transformava numa estrada cheia de laranjeiras. Nada nocivo. Mas ao contrário dela, que só estava tentando me encaixar em algum diagnóstico, não queria saber o que realmente um dia fez aquela menina sem vida feliz. Apenas estava focada em me definir com base nos últimos acontecimentos da minha vida, em que estive em depressão, vivendo em um ambiente extremamente tóxico e abusivo no meu trabalho. Sem contar que ela nem quis saber como eu era antes de me transformar naquilo.


Desesperada para sair daquela condição, frequentei centros espíritas, salas de meditação, yoga, recebi orações em casa e até me aventurei numa expedição solidária em Novo Airão (interior do Amazonas). Nessas vivências conheci muitas pessoas maravilhosas, e uma delas me apresentou Ângela, o anjo da minha vida. Com ela fiz terapia psicanalítica

reencarnacionista. Ângela me atendeu por muito tempo sem cobrar nada, e conseguiu me tirar do estado de zumbi quase morta, para viva, vivíssima! Passei 5 anos com ela, só fui obrigada a romper o cordão umbilical, pois mudei de cidade. Mas confesso que é difícil esquecer uma profissional tão excelente quando só se encontra profissionais que deixam muito a desejar. A forma que Ângela trabalha me potencializou como pessoa, com ela consegui me perdoar, me libertar, aprender e construir uma autoestima saudável, que nunca havia existido na minha vida. Ela não apenas escutava, ela sentia, se importava, mostrava que se importava, e dava puxões de orelha quando necessário.


Ângela é didática, ela não está naquela sala tentando mostrar que é melhor que o paciente, ela realmente se importa e faz de tudo para fazer o paciente sair melhor do que entrou. Ela não só mostrava para mim onde estava o erro, ela sempre me presenteava com uma técnica melhor que a outra, ensinando-me como sair daquela situação, por exemplo, como diminuir ou aniquilar um hábito terrível, e por fim, me sentir melhor. Era tão eficaz que desenvolvi uma analogia que define sua forma de trabalhar. Era como se estivéssemos no meu jardim, seco e cheio de mato. Ela me ensinou a cavar a terra com as minhas próprias mãos, a encontrar as ervas daninhas, a arrancá-las, e a plantar uma flor ou árvore no lugar. Ela não deixava o buraco aberto, sempre plantávamos algo. No início ela me ajudava a regar as flores, mas depois que me ensinou, passou a ficar apenas ao meu lado, mas quando necessário, sujava as mãos novamente. Só que no meu jardim não existia apenas ervas daninhas, também nasce plantas venenosas ou espinhosas, e ela me mostrou que existem traços da minha personalidade presente no meu temperamento que não dá para arrancar, mas dá para podar. Ela não teve medo de criar vínculo comigo, já tomamos chá com bolachas antes de entrar no consultório, já reguei as plantas da clínica, e nada disso atrapalhou. Outra coisa, eu fazia faculdade de psicologia na época, mas ela nunca se sentiu ameaçada a ponto de soltar um: eu que sou a terapeuta aqui. Como outras profissionais que encontrei pelo caminho, quando só citei que havia feito e trancado por motivo de adoecimento e por isso estava naquela busca por melhora novamente.


Mudei de cidade e fiquei sem a terapia de Ângela, então tentei os postinhos próximo aos lugares onde eu morei. Minha primeira tentativa me fez ter vontade de me matar quando sai do consultório. Primeiramente ficavam abrindo a sala todo tempo interrompendo-me, nos fizeram mudar de sala duas vezes durante a sessão, aquela psicóloga claramente era novata, recém formada, que tinha cara de cachorro molhado e não conseguia se posicionar ao funcionário pedindo para que ele saísse, pois estava atrapalhando a consulta. Tive pena dela, confesso. Na primeira sessão eu contei 7 anos em uma hora e ela só me olhou com cara de assustada, no final ela repetiu diversas vezes: você vai conseguir vir mesmo? Vai que arruma um emprego, acho que não vai conseguir vir, em. Na segunda sessão a primeira coisa que ela fez foi me corrigir, referente ao que tinha contado a ela anteriormente, dizendo: eu queria te dizer que você está errada, você não sofreu abuso, você sofreu assédio. Bem seco mesmo, na lata, sem pergunta se eu estava bem. Bom, minha senhora, eu sofri abuso sim! Mas isso não vem ao caso. Em seguida foi só decepção, tudo que eu falava, ela tentava me corrigir de alguma forma, eu dizia: quero morrer, só penso em morte, estou mal. E desabava a chorar. Assustada, não falava nada, só me olhava, às vezes, tentava dizer nada com nada. Sai querendo literalmente me jogar da ponte. Eu só conseguia pensar, será que essa mulher frequentou alguma aula de psicologia, será que ela conhece alguma técnica de intervenção e crise?!


Na penúltima vez que tentei uma consulta com uma psicóloga pelo SUS, ela se sentiu claramente ameaçada quando contei que havia feito psicologia até o sexto período, dizendo: mas quem manda aqui sou eu. Eu juro que quis gargalhar, olha só uma psicóloga querendo disputar com a paciente, tadinha, precisa de terapia. Então foi de mal a pior, ela aumentou minha ansiedade diversas vezes dando conselhos imbecis, como por exemplo, aconselhando-me a tentar mudar o outro, ou mostrando que eu deveria ter aceitado a proposta de estágio - de uns 6 meses atrás-, mesmo trabalhando 8h por dia, e precisando do meu salário, pois havia a possibilidade de pegar 3 ônibus, para ir até Florianópolis, repetindo diversas vezes as paradas e bairros que eu deveria percorrer para chegar até lá. Juro que a explicação dela sobre percursos durou uns 20 minutos, e ela não parava. Além de falar que eu deveria tentar mudar as pessoas, ou me aconselhar sei lá, a mudar de vida, casa, cidade e até de família, ela ainda ficou falando das amigas, e das suas histórias com os namorados. Mostrando os conselhos que ela dá para suas amigas aprenderem a manipular seus parceiros. Cai na besteira de tentar me abrir mesmo assim, e contei que tenho crises de ansiedade constantes, e gostaria de saber o que fazer para elas diminuírem. Mas para minha surpresa, no final da sessão, ao me levantar para ir embora, disse a ela: eu queria saber manipular, como você tentou me ensinar. E ela respondeu: mas você sabe! Quando dá seus shows de crise de ansiedade. Eu fiquei tão chocada em ver uma psicóloga descrevendo uma crise de ansiedade e as vezes pânico, como "shows", que congelei e não consegui falar nada. Só chorar depois.


Na última que tentei, foi quando denunciei a conduta ética da psicóloga e mudei de profissional na mesma unidade de saúde. Nas primeiras sessões ele me parecia muito competente, se mostrando conhecedor das técnicas e abordagens, admito que fizemos muitas descobertas cavoucando meu inconsciente. Só não me ajudou a me sentir melhor, eu sentia como se ele estivesse só cavando buracos no meu jardim, pois ele não sabia me dizer como tampá-los, como se fosse uma toupeira fazendo caminhos na terra. Mas para minha surpresa, no nosso último encontro ele mudou completamente de conduta e começou a me tratar mal, chegou a dizer que eu só contava coisas ruins na terapia e que eu fazia ele perder o precioso tempo de almoço dele para me atender, jogando na minha cara a denúncia que eu fiz contra a psicóloga anterior, dizendo que mesmo ela sendo ruim ela terminou a faculdade e tinha um emprego. Ele disse isso mesmo sabendo o quanto era frustrante para mim não ter terminado a minha faculdade.


Sai do consultório me sentindo extremamente mal, como se tivesse sido expulsa. Fora o que comentei aqui, ele falou diversas outras coisas e discutimos bastante. Naquele dia minha mãe ia me buscar, mas como sai bem mais cedo, eu fui andando em direção ao lago próximo a minha casa, chorando embaixo de sol quente no meio da rua. Tenho essa mania de sair andando quando algo me aborrece muito e me tira do eixo. Mas para minha surpresa, naquele dia eu me senti diferente, parece que por um instante, aquela Juliana que a Ângela ajudou a se descobrir, voltou. Eu me abracei e repeti diversas vezes: eu não vou te abandonar, ele não possui a verdade absoluta e não tem direito nenhum de te definir. Foi o que fez eu me acalmar, rasguei o papel de retorno e prometi para mim nunca mais pisar onde eu não sou bem-vinda. Essa foi uma das coisas que aprendi com a Ângela, desde então nunca mais fiquei em nenhum lugar que faça eu me sentir humilhada. Por fim, cansei de psicólogo, por enquanto eu prefiro lutar por mim sozinha, já basta ter passado por profissionais que só pioraram meu estado. E olha que eu persisti. A falta de profissionais que realmente se importam com paciente é raro, e foi assistindo ao documentário "O método Stutz" na Netflix, que confirmei que não estou errada em procurar um profissional que se importa com a melhora do paciente. Como disse Liz Gilbert, talvez não seja minha vida que esteja tão caótica, o mundo é que está.

Commentaires


bottom of page