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O Jardim de Júlia


Júlia era uma menina que cresceu aprendendo que a vida exigia pressa, como as vozes na sua cabeça sempre lhe diziam. No entanto, havia algo especial em Júlia: ela era uma sonhadora, cheia de talentos. Desde pequena, adorava desenhar, escrever e inventar histórias. Seus cadernos eram repletos de desenhos e poesias que expressavam sua rica imaginação.


Porém, antes mesmo de Júlia ter a chance de mostrar seus desenhos e poesias ao mundo, ela ouviu muitos adultos dizendo que pessoas importantes não desenhavam; elas curavam outras pessoas ou trabalhavam como engenheiros e advogados. Profissões artísticas eram vistas como hobbies, não como carreiras sérias.

Determinada a ser bem-sucedida, Júlia se concentrou em seus estudos. Ela queria ser a melhor aluna da sala para dar orgulho aos adultos à sua volta. No entanto, apesar de todo o seu esforço, Júlia não se sentia boa naquilo que fazia. A pressão constante a deixava exausta e insegura.


Apesar de tudo, Júlia nunca parou de escrever. Era algo maior do que ela. Continuava escrevendo histórias em seus caderninhos e até compôs uma música. Porém, quando mostrou sua música a uma amiga e foi ridicularizada, voltou a esconder seu talento. Mesmo assim, sua paixão pela escrita era inabalável; ela escreveu dois livros mas nunca mostrou para ninguém.


À medida que Júlia crescia, sua atenção se voltava cada vez mais para passar no vestibular. Ela acreditava que, ao entrar na universidade, finalmente se sentiria importante e reconhecida. Sua rotina era extenuante: não dormia bem, não se alimentava direito, apenas estudava. No entanto, quando os resultados saíram, Júlia não passou no vestibular. Seu mundo desabou, e ela se sentiu perdida. Apesar da decepção, Júlia seguiu em frente e conseguiu o emprego dos seus sonhos na área que estava estudando. No entanto, o ambiente de trabalho era tóxico. As pessoas ao seu redor eram negativas e cruéis, o que fez Júlia adoecer mental e emocionalmente. Embora continuasse escrevendo, a pressão de tentar se encaixar em um lugar que não era seu a fez perder a alegria pela vida.


Júlia caiu no fundo do poço, sem forças para sair. Dias de profunda escuridão se seguiram, até que, em um momento de desespero, a pequena Júlia apareceu em seus sonhos, trazendo uma luz resplandecente e o alívio do frescor de um vento de primavera.


A pequena Júlia pegou a grande Júlia pelas mãos e a levou a um jardim abandonado, com flores mortas e buracos na terra. Apontando para o jardim, a pequena Júlia perguntou:


— Você está vendo este jardim sem cuidado?


A grande Júlia confirmou com a cabeça, e a pequena Júlia exclamou:


— Este jardim é você! Você passou tanto tempo tentando se encaixar para ser aceita que esqueceu de plantar no seu próprio jardim.


A grande Júlia começou a chorar, sentando-se no chão, debilitada e com olheiras profundas, sentindo vergonha e tristeza.

A pequena Júlia, então, se afastou, sentou no chão e começou a plantar uma semente, regando-a com cuidado.

Curiosa, a grande Júlia perguntou:


— O que está fazendo?


— Estou esperando crescer — respondeu a pequena Júlia.


— Vai demorar muito — disse grande Júlia. — Mas de qualquer forma o tempo vai passar. É melhor que passe com uma sementinha plantada do que com um jardim vazio, sem esperança de colheita — respondeu pequena Júlia num tom esperançoso.


Inspirada, a grande Júlia se levantou e resolveu plantar outra semente ao lado da que a pequena Júlia havia colocado. A pequena Júlia sorriu, e juntas, começaram a varrer, plantar e regar o jardim. A grande Júlia foi se sentindo melhor. Quando acordou do longo sonho, sentiu uma saudade imensa da pequena Júlia, mas ouviu uma voz em seu peito dizendo que nunca iria embora enquanto ela continuasse a olhar para dentro de si.


Júlia sorriu, mais leve do que nunca, entendendo a importância de cuidar de si mesma. A partir daquele momento, seguiu confiante, determinada a cultivar seu jardim interior e confiar em seu próprio valor, independentemente das opiniões externas. Ela finalmente percebeu que a chave para uma vida plena era investir em seus sonhos, e nunca deixar de acreditar em si mesma.


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